terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A Glória dos Bastardos


Nessa época de cinema 3D e atores digitalizados à moda "Avatar" é gratificante assistir a um filme como Bastardos Inglórios do diretor americano Quentin Tarantino. Com inteligência essa produção faz referências a vários filmes e estilos cinematográficos, demonstrando como Tarantino conhece como ninguém a sétima arte. Isso se percebe já em seu fantástico começo no qual há uma referência à "Era Uma Vez no Oste" de Sérgio Leone. Além disso outro ponto forte de Bastardos é o seu elenco do qual se destaca o ator Christoph Waltz, que interpreta com maestria o nazista caçador de judeus Hans Landa, interpretação que lhe rendeu vários prêmios como, por exemplo, o de melhor ator no Festival de Cannes e, ainda, o Oscar e o Globo de Ouro como melhor ator coadjuvante. Bastardos Inglórios é um western ambientado na Segunda Guerra Mundial e, mesmo com essa mistura de gêneros, não há maniqueísmo pois os mocinhos, por exemplo, não são tão bons como é característica dos faroestes e filmes de guerra. Com esse excelente filme Quentin Tarantino mostra como é preciso muito mais que caríssimos efeitos especiais para se fazer um grande filme. E foi por isso que os "Bastardos" alcançaram a glória.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Grande Sertão: Veredas

"A linguagem e a vida são uma coisa só. Quem não fizer do idioma o espelho de sua personalidade não vive; e como a vida é uma corrente contínua, a linguagem deve evoluir constantemente. Isto significa que como escritor devo me prestar contas de cada palavra e considerar cada palavra o tempo necessário até ela ser novamente vida. O idioma é a única porta para o infinito, mas infelizmente está oculto sob montanha de cinzas."
João Guimarães Rosa

João Guimarães Rosa foi um verdadeiro artesão da linguagem, como ninguém ele soube moldá-la em suas narrativas e, por conta disso, não apenas aquilo que narra é fascinante mas, também, o é a forma como isso é feito. No mês de janeiro empreendi a grande jornada de leitura de Grande Sertão: Veredas. Nesse livro da palavra "nonada" até a palavra "travessia" existe uma verdadeira epopeia, não só através do sertão brasileiro, mas também pela Língua Portuguesa. Nesse primoroso romance João Guimarães Rosa realizou uma verdadeira pintura do Brasil através das palavras, criando com neologismos, aliterações, rimas, um texto que é ao mesmo tempo prosa e poesia. O autor produziu uma nova tragédia grega que se passa no sertão, contando a história do jagunço Riobaldo, o qual foge totalmente do esteriótipo do herói pois está em conflito consigo mesmo, ele tem a dúvida de ter ou não feito um pacto com o diabo e de sentir esse estranho amor por seu amigo Diadorim. Grande Sertão por conta de tudo isso não só é um clássico da literatura brasileira mas uma verdadeira obra de arte, ele foi construido em forma de prosa mas parece ser um grande poema épico. É um romace de uma leitura difícil mas que nos arrebata e captura até o ponto de nos deliciarmos com as suas palavras. Tudo o que se falar sobre esse livro é pouco, com ele João Guimarães Rosa provou ser esse grande artesão da Língua Portuguesa.